Continuação e final do artigo que aborda certos princípios que os cristãos deveriam seguir quanto ao vestuário. Caso queira ver a primeira parte, o internauta deve clicar aqui.
Princípio nº 5
Os cristãos devem vestir-se de modo decente e digno, mostrando respeito para com Deus, para consigo e para com os outros. Este princípio se encontra no uso que Paulo faz do termo aidos (decência, reverência) para descrever o adorno cristão apropriado (I Timóteo 2:9). Os cristãos mostram reverência e respeito vestindo-se decente e sensatamente, sem causar vergonha ou embaraço a Deus, a outros ou a si mesmos.
Este princípio é especialmente relevante hoje, quando a indústria de modas freqüentemente rejeita respeito e decência como base para relações humanas construtivas. A Bíblia explicitamente condena a aparência sedutora: "Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mateus 5:28). As vestes reveladoras promovidas por alguns modistas da vanguarda despertam paixões sensuais em quem contempla e contribui para a depravação atual. Vestindo-se modestamente, os cristãos desempenham papel importante em manter a moralidade pública.
Deus nos convida a nos vestir modesta e decentemente, não só para prevenir o pecado, mas também para preservar intimidade. Pessoas que querem pecar pecarão não importa quão modestamente vestidas estão as pessoas que vêem. O propósito da modéstia é não só de prevenir desejos sensuais, mas também preservar algo que é muito frágil e não obstante fundamental para a sobrevivência da relação conjugal: a habilidade de manter uma relação íntima com seu cônjuge. Se o casamento há de durar a vida toda, como Deus planejara, então marido e mulher devem cooperar para preservar, proteger e nutrir a intimidade. Modéstia e decência preservarão o gozo da intimidade muito depois de terem soado os sinos do casamento.
Princípio nº 6
Os cristãos devem vestir-se sobriamente, evitando o exibicionismo. Este princípio se encontra no uso que Paulo faz do termo sophrosune (sobriedade) para descrever o adorno próprio do cristão (I Timóteo 2:9). Este termo denota uma atitude de domínio próprio, uma atitude que determina todas as demais virtudes. O apóstolo reconhecia que o domínio próprio é indispensável em ajudar o cristão a vestir-se modesta e decentemente.
Paulo descreve a mulher cristã convertida como a que se veste sobriamente, restringindo seu desejo de exibir-se pelo uso de penteados complicados, ouro, pérolas ou vestes dispendiosas (I Timóteo 2:9). Sua aparência não diz: "Olhe para mim; admire-me", mas sim: "Olhe como Cristo me mudou de dentro para fora". Uma cristã ou um cristão que foram libertados da preocupação constante de ser objeto de admiração não recearão usar a mesma indumentária freqüentemente, se é bem feita, modesta e cai bem.
A admoestação de Paulo para restringir o desejo de comprar e usar "roupas dispendiosas" (I Timóteo 2:9) também sublinha o princípio de mordomia cristã. Gastar além de nossos recursos é incompatível com o princípio cristão de mordomia. Mesmo se está a nosso alcance comprar vestes dispendiosas, não nos cabe desperdiçar meios que Deus nos tem dado quando há tanta necessidade de ajudar os carentes e de alcançar os que ainda não conhecem o evangelho.
Princípio nº 7
Os cristãos devem respeitar as distinções de sexo usando vestes que afirmam sua identidade masculina ou feminina. Este princípio é ensinado na lei que se acha em Deuteronômio 22:5, que proíbe o uso de roupas do sexo oposto. Um comentário bíblico, que reflete a opinião de muitos estudiosos, assinala: "O objetivo imediato desta proibição não era de impedir a licensiosidade, ou opor práticas idólatras...mas de manter a santidade da distinção dos sexos que foi estabelecida pela criação do homem e da mulher."5
Este princípio é particularmente relevante hoje, quando muitos no mundo da moda não mais exclamam: "Viva a diferença!", antes dizem: "Viva a semelhança!" De fato, a semelhança entre os estilos de penteado e as vestes de homens e mulheres têm se tornado tão grande que sua identidade é facilmente confundida.
A Bíblia considera importante preservar as distinções de sexo no vestuário. Isto é importante para nossa compreensão do que somos e do papel que Deus quer que desempenhemos. O vestuário define nossa identidade. Um homem que quer ser tratado como mulher provavelmente usará jóias, perfumes e vestes ornadas como as mulheres. De igual modo, uma mulher que quer ser tratada como homem provavelmente se vestirá como homem.
A Bíblia não nos diz que estilo de vestuário homens e mulheres devem usar, porque reconhece que o estilo é ditado pelo clima e a cultura. A Bíblia nos ensina a respeitar a distinção de sexo no vestuário conforme as normas da nossa própria cultura. Isto significa que como cristãos devemos nos perguntar ao comprar roupa: "Este artigo afirma minha identidade sexual, ou me faz parecer como se fosse do sexo oposto?" Quando sentir que certo tipo de vestimenta não pertence a seu sexo, siga sua consciência: não o compre, mesmo se estiver na moda.
Numa época em que a moda se inclina em abolir distinções de sexo no vestuário, nem sempre é fácil para cristãos acharem indumentária que afirma sua identidade sexual. Nunca foi fácil viver de acordo com princípios bíblicos. Mas esta é nossa vocação cristã -- não nos conformar com os valores e estilos de nossa sociedade, mas ser uma influência transformadora neste mundo pela graça de Deus.
Conclusão
O vestuário não faz o cristão, mas cristãos revelam sua identidade por sua maneira de vestir e aparência. A Bíblia não prescreve um vestuário normativo, mas nos convida a seguir a simplicidade e ausência de pretensão do estilo de Jesus, mesmo em nossa indumentária e aparência.
Seguir a Jesus em nosso vestuário e aparência significa distinguir-se da multidão, não se pintando, não se cobrindo de jóias e não se embonecando como tantas pessoas fazem hoje. Isto exige coragem e discernimento. Coragem para não se conformar com os ditames sedutores da moda, mas ser transformado pelas diretrizes da Palavra de Deus (Romanos 12:2). Discernimento para distinguir entre a moda caprichosa que muda e o estilo sensato que perdura. Coragem para revelar a beleza do caráter de Cristo, não pelo adorno exterior do corpo " com ouro, pérolas ou vestes dispendiosas", mas pelo embelezamento interno da alma com as graças do coração e o espírito manso e tranqüilo que é precioso aos olhos de Deus (I Pedro 3:3 e 4). Coragem para vestir-se, não para glorificar a nós mesmos, mas para glorificar a Deus, vestindo-se modesta, decente e sobriamente.
Nossa aparência é um testemunho constante e silencioso de nossa identidade cristã. Possa ela sempre dizer ao mundo que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.
Notas e referências
1. Este artigo é adaptado do meu livro Christian Dress and Adornment (Berrien Springs, Mich.: Biblical Perspectives, 1994). O livro pode ser adquirido de Adventist Book Centers ou pelo correio (US$13,00) de Biblical Perspectives, 4990 Appian Way, Berrien Springs, Michigan 49103, E.U.A.
2. William Thourlby, You Are What You Wear (New York: New American Library, 1980). pág. 52.
3. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1948), vol. 3, pág. 376.
4. Ellen G. White, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), pág. 415.
5. C. F. Keil e F. Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament (Edinburgh: T. and T. Clark, 1873). Na mesma veia, J. Ridderbos escreve: "Estas proibições tinham em vista inculcar respeito pela ordem divina da criação e para a distinção entre sexos e espécies que ela apresenta" (Deuternomy [Grand Rapids, Mich.: Regency Reference Library, 1984], pág. 135). Ver também The Interpreter's Bible Commentary (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 1992), vol. 3, pág. 135.
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