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Vejo várias religiões contrárias, mas todas falsas, exceto uma. Cada qual quer ser acreditada por sua própria autoridade e ameaça os incrédulos. Não creio nelas; todos podem dizer isso, todos podem dizer-se profetas. Vejo, porém, a religião cristã, na qual encontro profecias; e é o que nem todos podem fazer.
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Importa, igualmente, que os homens conheçam esses dois pontos; e é igualmente perigoso que o homem conheça Deus sem conhecer sua miséria, e conheça sua miséria sem conhecer o Redentor que pode curá-lo dela. Um só desses conhecimentos faz ou o orgulho dos filósofos que conheceram Deus, e não sua miséria, ou o desespero dos ateus, que conhecem sua miséria sem Redentor. Pág. 7.
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Coisa assombrosa, no entanto, que o mistério mais distanciado do nosso conhecimento, que é o da transmissão do pecado original, seja uma coisa sem a qual não podemos ter nenhum conhecimento de nós mesmos! Sem dúvida, não há nada que choque mais a nossa razão do que dizer que o pecado do primeiro homem tornou culpáveis os que, estando tão afastados dessa fonte, parecem incapazes de participar dele. Essa emanação não nos parece somente impossível, mas nos parece até mais que injusta: com efeito, que há de mais contrário às regras da nossa miserável justiça do que danar eternamente uma criança incapaz de vontade por um pecado em que parece ter tido tão pouca parte, que cometeu seis mil anos antes de sua existência? Certamente, nada nos choca mais rudemente do que essa doutrina; no entanto, sem esse mistério, que é o mais incompreensível de todos, somos incompreensíveis a nós mesmos. O nó da nossa condição toma suas voltas e pregas nesse abismo. De sorte que o homem é mais inconcebível sem esse mistério do que esse mistério inconcebível ao homem. Pág. 8-9.
O pecado original é uma loucura diante dos homens; mas, é dado como tal. Não deveis,pois, censurar de falta de razão essa doutrina, uma vez que a dou como não tendo razão. Mas, essa loucura é mais sábia do que toda a sabedoria dos homens: Quod stultum est Dei, sapientius est hominibus ["Porque o louco é de Deus, o sábio é dos homens"] (I Coríntios, 1, 25). Com efeito, sem isso, que se dirá que é o homem? Todo o seu estado depende desse ponto imperceptível. E como se apercebeu disso, de vez que é uma coisa acima de sua razão, e que sua razão, bem longe de inventar por suas vias, afasta-se quando ela se lhe apresenta? Pág. 9.
Não concebemos nem o estado glorioso de Adão, nem a natureza do seu pecado, nem a transmissão que dele se fez em nós. São coisas passadas no estado de uma natureza toda diferente da nossa e que vão além da nossa capacidade presente. Tudo isso nos é inútil saber para sair dele; e tudo o que nos importa conhecer é que somos miseráveis, corruptos, separados de Deus, mas religados por Jesus Cristo; e é disso que temos provas admiráveis sobre a terra. Págs. 9-10.
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O cristianismo é estranho: ordena ao homem que reconheça que é vil e até abominável; e ordena-lhe que queira ser semelhante a Deus. Sem esse contrapeso, essa elevação o tornaria horrivelmente vão, ou esse abaixamento o tornaria horrivelmente abjeto [desprezível].
A miséria persuade o desespero; o orgulho inspira a presunção. A encarnação mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio de que ele necessita.
Não se acha, na religião cristã, um abaixamento que nos torne incapazes do bem, nem uma sanidade isenta do mal. Não há doutrina mais própria ao homem do que essa, que o instrui de sua dupla capacidade de receber e perder a graça, por causa do duplo perigo a que sempre está exposto, de desespero ou de orgulho.
Os filósofos não prescreviam sentimentos proporcionais aos dois estados. Inspiravam movimentos de grandeza pura, e não é esse o estado do homem. Inspiravam movimentos de baixeza pura, e não é esse o estado do homem. São necessários movimentos de baixeza, não por natureza, mas por penitência; não para ficar neles, mas para chegar à grandeza.
São necessários movimentos de grandeza, não por merecimento, mas por graça, e depois de se ter passado pela baixeza.
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A última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a conhecer isso. É preciso saber duvidar onde é preciso, afirmar onde é preciso, e submeter-se onde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão. Há os que pecam contra esses três princípios, ou afirmando tudo como demonstrativo, não precisando ser conhecido por demonstrações; ou duvidando de tudo, não precisando saber onde é necessário, submeter-se; ou submetendo-se a tudo, não precisando saber onde é necessário julgar.
Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão.
Diz bem a fé o que não dizem os sentidos, mas não o contrário do que vêem estes. Ela está acima e não em oposição. Pág. 10.
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