Quando fazia faculdade, nos tempos de agruras e privações materiais, eu lembro bem que, muitas vezes, “namorava” os livros nas estantes das livrarias de São Paulo e, depois, me conformava lendo alguns deles na Biblioteca do IAE – sonhando com o dia em que teria o meu acervo pessoal de bons livros.
Hoje, posso dizer que disponho de uma excelente biblioteca particular. O que falta mesmo é espaço para mais estantes, já que todas estão abarrotadas e há pilhas de livros ainda à espera de um lugarzinho especial (Esta semana chegaram mais de 70, entre os novos da CPB e de outras editoras) entre os “pares”.
Graças a Deus, disponho de recursos para adquirir todos aqueles que me interessam entre os que são lançados todos os dias. No entanto, uma coisa não arrefeceu em mim com o passar do tempo: o amor pelos livros e a paixão pela leitura. De modo particular, associo o estudo da Bíblia e de outros bons livros não apenas à cultura da informação, desenvolvimento do intelecto, mas, acima de tudo, à nutrição e crescimento espiritual.
“Que outros se jactem das páginas que escreveram; a mim me orgulham as que tenho lido”, afirma Jorge Luis Borges. Concordo plenamente com o maior escritor argentino de todos os tempos – alvo de uma das maiores injustiças dos organizadores do Prêmio Nobel, ao ser preterido para o Nobel de Literatura – a leitura é um prazer raro. Ler um bom livro é como degustar um fino manjar, uma comida deliciosa.
Concordo ainda com Francis Bacon, quando diz: “Alguns livros são para serem degustados, outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos. A leitura torna o homem completo, as preleções dão a ele prontidão, e a escrita torna-o exato”; mas, não vem deles e nem de centenas de outros escritores, filósofos e pensadores “a mais perfeita tradução” dos meus sentimentos e impressões mais sublimes sobre o sagrado exercício da leitura. Ela vem, ou melhor, encontra eco, nas palavras do pastor evangélico e escritor John Piper:
“Digo-lhes que meu principal sustento espiritual vem do Espírito Santo por meio da leitura. Por conseguinte, ler é mais importante para mim do que comer. Se eu ficasse cego, pagaria a alguém a fim de que lesse para mim. Tentaria aprender braile. Compraria livros gravados em fitas cassetes. Preferiria viver sem comida a viver sem livros”.
É impossível exagerar a importância da boa leitura, o valor dos bons livros que saem do prelo da CPB, Ados, Fiel, Vida, Mundo Cristão e tantas outras boas editoras. Daniel Webster disse:
“Se livros religiosos não circularem amplamente entre as massas, neste país, não sei o que nos tornaremos como nação. Se a verdade não for difundida, o erro o será. Se Deus e Sua Palavra não forem conhecidos e recebidos, o diabo e suas obras ganharão ascendência. Se os livros evangélicos não alcançarem cada vilarejo, as páginas de literatura corrupta e licenciosa alcançarão”.
A minha manutenção financeira nos quatro anos de Teologia foi assegurada pela venda de livros da Casa Publicadora Brasileira – a chamada “Colportagem”. Certamente, os valentes “Ministros da Página Impressa”, da mesma forma que aconteceu comigo ao ler a citação acima, se vêem nas palavras de Webster; eles fazem um trabalho tão elevado de transformação de vidas que em nada pode ser posto como inferior ao dos pastores e educadores cristãos.
Retomando os trilhos das minhas reflexões pessoais sobre a importância da leitura, faço uso novamente das palavras de John Piper:
“A Igreja primitiva foi estabelecida pelos escritos dos apóstolos, bem como pela pregação deles. Deus resolveu enviar Sua Palavra Viva ao mundo por trinta anos, e Sua Palavra escrita, por dois mil anos. Pense sobre a intenção que estava por trás desta resolução divina. As pessoas, em cada geração, seriam dependentes daqueles que lêem. Algumas pessoas, se não todas, teriam que aprender a ler – e ler bem – para serem fiéis a Deus”.
Concluo estas reflexões, convidando o leitor a fazer mentalmente comigo uma viagem ao primeiro século da Era Cristã – mais precisamente entre os anos 64 a 67. Numa prisão em Roma, abandonado pela quase totalidade dos amigos (II Timóteo 4:9-11), encontramos um homem idoso que, após o cumprimento da mais fantástica obra evangelística de todos os tempos, espera com fé o cumprimento dos desígnios divinos (II Timóteo 4:6-8).
Não sei – honestamente falando – o que eu e você, leitor, esperaríamos da vida nesta idade e a esta altura dos fatos. Se alguém dissesse para você: “Pode escolher livremente duas coisas que eu levo para você”, o que você escolheria? Paulo fez apenas um pedido singelo para o discípulo, Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos” (II Timóteo 4:13).
Bem, quanto à capa, ela se fazia “necessária na fria e úmida prisão do apóstolo. Paulo não pedia nada supérfluo”, afirmam os comentaristas. E os livros? Para que livros a esta altura dos acontecimentos? Para que livros, se o grande evangelista, agora no final da vida, já não devia nem conseguir enxergar direito?
Faz muitos anos, li um pequeno texto no qual o articulista comentava exatamente esse pedido singelo e inusitado. Perdi esse fragmento literário e, portanto, não tenho as palavras na íntegra; no entanto, lembro que o autor dizia mais ou menos assim:
“Ele teve um encontro pessoal com Cristo e, no entanto, pede livros; Ele foi um dos mais brilhantes e eruditos de todos os pregadores do Evangelho, e, no entanto, pede livros; Ele foi arrebatado até ao terceiro Céu, e, no entanto, pede livros; Ele foi colocado como a mais perfeita imitação de Cristo, e, no entanto, pede livros”.
Amigos, se este homem de Deus, este gigante espiritual que foi Paulo, no momento extremo da vida não pediu alimentos, remédios ou qualquer outra coisa, apenas pediu “traga-me os livros”, o que dirá de nós, pobres e indigentes espirituais?
Há uma frase que quero deixar com você, dos meus tempos de grande aperto financeiro. Ela joga por terra a desculpa esfarrapada daqueles que dizem que não lêem mais e não compram mais livros por falta de dinheiro – enquanto vivem gastando o dinheiro com “aquilo que não é pão e leite”, coisas supérfluas.
Não lembro mais o autor, e é o que menos importa, mas sei que é um filósofo e dizia o seguinte: “Venda a camisa e compre livros!” Estão lembrados da frase de John Piper: “Preferiria viver sem comida a viver sem livros”?
Da mesma forma que Paulo, afirmemos hoje: “Traga-me os livros!”
(Elizeu Lira, no blog Nisto Cremos)
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