domingo, 19 de dezembro de 2010

Peregrino em Terras Estranhas: José Wolff - Parte Final

Caso não tenha visto a primeira parte clique aqui

Por C. Mervyn Maxwell

Apoio financeiro para suas viagens  
Como financiou ele suas viagens? Principalmente pela liberalidade de Henry Drummond e seus amigos. Henry Drummond (1786-1860) era tanto um perito em agricultura científica como banqueiro. Por muitos anos foi um membro respeitado do Parlamento. Para sua segunda e terceira viagens Wolff foi patrocinado pela Sociedade para Promover o Cristianismo entre os judeus, que por sua vez era patrocinada por Henry Drummond.
Wolff foi financiado também por seus parentes por afinidade. Sua esposa, à qual em seus livros ele se refere como “Lady Georgiana”, pertencia a uma família nobre. Esta dama simpática ocasionalmente acompanhava seu marido em suas perigosas viagens. Nas horas escuras, quando Wolff pensava que ia ser executado em Bocara, escreveu uma nota em sua Bíblia: “Minha querida Georgiana, amei-a até à morte. Bocara 1844”.
Os judeus viviam em lugares espalhados. Os muçulmanos que formavam a maior parte da população em muitas áreas, não eram necessariamente hostis a um judeu cristão. Wolff, que raramente ficava em um mesmo lugar, falava em particular e em público tanto com judeus como com muçulmanos bem como com povos de outras religiões, distribuindo cópias das Escrituras na língua local. Também se encontrava com europeus que estavam servindo em missões diplomáticas ou comerciais, longe de casa. Muitas vezes lhe davam ouvidos amistosos. Quantos conversos fez, é difícil verificar, visto que não tentava dar um cunho institucional a seu trabalho, apesar de fundar umas poucas escolas.

Apelo baseado na profecia
Como acabamos de ver, a maior paixão de Wolff, como judeu cristão, era ganhar outros judeus para Cristo. Três de suas viagens ao Oriente Próximo foram empreendidas para encontrar e converter judeus a Cristo. Ao fazê-lo, também pregava a muitos cristãos, muçulmanos, hindus, parsis e outros. Seu método fundamental com judeus era primeiro afirmar que o Messias viria logo para estabelecer Seu reino em Jerusalém. A seguir, mostrava, a partir de Isaías 53, Miquéias 5:2 e outros textos messiânicos, que o Messias devia ser identificado com Jesus Cristo. Para confirmar sua identificação do Messias com Jesus, ele empregava a profecia das 70 semanas de Daniel 9, descrevendo seu cumprimento preciso na vida e ministério de Cristo. Concluída a explicação de Daniel 9, ele passava a expor os 2300 dias de Daniel 8:14, demonstrando que iam terminar em 1847, com a vinda do Messias em poder e glória. Tendo gravado na mente de seus ouvintes que o Messias iria voltar para estabelecer o reino judaico dentro de poucos anos, Wolff apelava para a crença em Jesus como Senhor e Salvador.
Notem que 1847, não 1844, foi a data que Wolff dava para a terminação dos 2300 dias. Não precisamos nos preocupar sobre a diferença, pois era apenas técnica, baseada na informação que ele tinha quanto à data do decreto de Artaxerxes em Esdras 7.
Muita gente pensa que a interpretação corrente da profecia dos 2300 dias foi desenvolvida por Guilherme Miller. Mas a primeira pessoa a ver os 2300 dias (“duas mil e trezentas tardes e manhãs”) de Daniel 8:14 como 2300 anos, foi um rabino, Nahawendi, que viveu no século nove. Como rabino, Nahawendi era um perito em hebraico. Com efeito, nos séculos nove e dez, rabinos (todos eles peritos em hebraico) na Pérsia, França, Espanha e Portugal estavam ensinando que os 2300 dias eram 2300 anos.
Através dos séculos, outros notáveis estudantes da Bíblia fizeram a mesma descoberta, entre eles Arnaldo Villanova, médico particular de vários papas. No tempo em que Miller nasceu, Johannes Petri, na Alemanha, estava mostrando que os 2300 dias eram ligados com as 70 semanas, com o resultado de que é fácil demonstrar que os 2300 dias deviam terminar por volta de 1840, porque se pode marcar o começo das 70 semanas em 457 a.C.
Miller descobriu a profecia dos 2300 anos em 1818, mas não começou a pregar a respeito antes de 1831. Ao mesmo tempo, bem longe no Oriente, Joseph Wolff, que nunca ouvira falar de Miller e que conhecia o hebraico a ponto de poder ensiná-lo, também tinha descoberto a mesma profecia e já começara a pregar a respeito.
Wolff sentiu-se confirmado em sua compreensão dos 2300 dias como 2300 anos quando visitou o mosteiro ao pé do Monte Sinai. Aí, para seu deleite, achou um livro de Johannes Stauros, um judeu búlgaro que vivera dois séculos antes, que também ensinara que os 2300 dias de Daniel 8 e os 1260 dias de Daniel 12 eram símbolos desses muitos anos.
Com o correr dos anos e ao se aproximar 1847, as pessoas perguntavam a Wolff que diria ele se o ano de 1847 passasse sem a volta do Messias. Ele respondeu simplesmente que admitiria que estava enganado. Wolff era um missionário cristão corajoso, ativo, criativo e inteligente. Ao pregar sobre a profecia dos 2300 dias, estava fazendo algo que Deus queria que fosse feito, algo cujo tempo chegara. Os 2300 dias terminaram por volta de 1840, e o Messias fez algo então em conexão com Seu reino. Daniel 7:9-14 mostra que naquele tempo “o Filho do homem” veio “nas nuvens do céu” ao “Ancião de dias” (não à Terra) para iniciar o julgamento no Céu, onde Ele deveria receber “o reino, o poder, e a força, e a majestade” (Daniel 2:37). Wolff estava mais certo do que imaginara.
Ele não descobriu seu erro até 1847. Gostaríamos que ele tivesse estado em mais íntimo contato com seus irmãos adventistas na América do Norte. Já por volta de 1847, chegou-se à compreensão na América do Norte de que a vinda de Cristo em 1844 não foi à Terra mas ao “Ancião de dias” no Céu, para o começo do julgamento lá, e, como acabamos de notar, para a recepção de Seu reino lá.

Anos posteriores
Em seus últimos anos, Wolff serviu como pastor de uma paróquia da Igreja Anglicana, no sudoeste da Inglaterra. Era imensamente popular como pregador. Foi convidado para falar em muitas igrejas na Inglaterra. De amigos que ele fazia em toda parte, pôde levantar recursos suficientes para uma nova igreja para sua congregação pobre e rural. Também conseguiu prover cada família em sua igreja com alimento e combustível, cada ano, durante os meses do inverno. Era muito amado.
A carreira assombrosa de Joseph Wolff é fascinante em si mesma, mas para os Adventistas do Sétimo Dia tem um interesse único, porque em todas as suas viagens perigosas ele anunciou a segunda vinda de Cristo sobre a base da profecia dos 2300 anos. Ele foi talvez o mais pitoresco do grande número de pregadores que anunciaram a Segunda Vinda em boa parte do mundo no Grande Despertamento do Segundo Advento das décadas de 1830 e 1840.

Um comentário:

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