Por C. Mervyn Maxwell
Senhor Wolff, dez homens foram encarregados de assassiná-lo hoje à noite ao chegar a seu próximo destino. Eis uma lista de seus nomes. Que Alá o defenda”.
Senhor Wolff, dez homens foram encarregados de assassiná-lo hoje à noite ao chegar a seu próximo destino. Eis uma lista de seus nomes. Que Alá o defenda”.
Com tais palavras soando em seus ouvidos, Joseph Wolff despediu-se em 1844 da cidade de Bocara, no sudoeste do Uzbekistan.
Joseph Wolff! Seu nome me tem intrigado desde minha infância, este homem que podia falar tantas línguas, que sobreviveu a tantas aventuras e que pregou a Segunda Vinda em tantos lugares da África e do Oriente Próximo na época em que Guilherme Miller estava pregando na América. Ellen G. White lhe devotou cinco páginas no Conflito dos Séculos (357-362).
“Graças aos labores,” escreveu a Sra. White, “de Guilherme Miller e muitos outros na América, de setecentos ministros na Inglaterra, de Bengel e outros na Alemanha, de Gaussen e seus seguidores na França e na Suíça, de muitos ministros na Escandinávia, de um jesuíta converso na América do Sul e do Dr. Joseph Wolff em muitos países orientais e da África, a mensagem do advento foi levada a vastas regiões do globo habitável”. Southern Watchman (24 de Janeiro, 1905).
Mas de volta a Bocara, Wolff, regozijamo-nos em saber, não foi assassinado depois de deixar a cidade. Dois anos antes, ele tinha partido da Inglaterra com o propósito de verificar a sorte de dois oficiais do exército britânico que se dizia terem sido mortos. Afinal ele chegou a Bocara e foi informado de que não apenas tinham sido assassinados mas também quem tinha sido o assassino — um dos líderes da cidade. Embora fizesse muitos amigos entre os chefões da cidade, escapou por pouco de ser executado por ordem do mesmo chefão. Uma carta do xá da Pérsia chegou justamente em tempo para salvar sua vida. Mesmo assim, ao deixar a cidade, foi informado de que ainda não estava seguro. Depois de um dia de viagem, ele devia ser assassinado quando se hospedasse para a noite.
Mas ele não foi morto naquela noite. No final de um dia de viagem, Wolff convocou uma reunião pública. Depois de o povo reunir-se, anunciou publicamente os detalhes da trama contra ele. O fato de ele poder falar a língua local foi-lhe vantajoso. O povo da área cerrou fileiras para proteger esse líder religioso do Oeste, este “dervixe da Inglaterra e da América”. Os eventuais assassinos foram presos e punidos apropriadamente.
Durante sua gloriosa carreira, Wolff enfrentou inúmeros perigos. Sofreu fome, foi assediado por ladrões, e três vezes condenado à morte. Foi amarrado à cauda de um asno e oferecido à venda como escravo por “duas libras e dez shillings”. Um ladrão nadou até o barco no qual viajava e agarrou seu paletó que estava dobrado atrás dele. Amigos o ajudaram a fugir de uma cidade 30 minutos antes que uma turba chegasse, a qual queria despedaçá-lo. Recebeu duzentas pancadas em seus pés nus e depois, antes que seus pés sarassem, foi obrigado a andar 15 horas sem água, num dia de muito calor. Em troca de sua vida, exigiram que entregasse a bandidos tudo que tinha consigo: dinheiro, Bíblias, folhetos, alimento e mesmo sua roupa, obrigando-o a andar centenas de quilômetros através de montanhas frígidas sem quase nenhuma roupa.
Wolff sobreviveu em parte porque possuía uma simpatia natural e em parte porque podia falar várias línguas — mais ou menos 14 — dos diferentes povos entre os quais viajava. Era prudente em levar documentos oficiais, e às vezes funcionários de governos amigos chegavam no momento crítico. Sem dúvida, como um missionário muito dedicado, ele devia sua sobrevivência à intervenção divina. Certa vez amigos de bordo impediram que entrasse no porto, no barco a remo, do navio. Ao voltar o barco mais tarde ao navio, tiros foram disparados, e uma bala foi ouvida zumbir bem sobre o lugar que Wolff teria ocupado. Wolff cria que Deus o protegera.
Um senso de humor também o ajudou em certas ocasiões. Um desordeiro com ficha na polícia tentou certa vez perturbar uma reunião, exigindo prova “matemática” do cristianismo. O homem orgulhava-se de ser matemático. Wolff perguntou ao desordeiro matemático se ele jamais havia se alimentado. Quando o homem admitiu que sim, Wolff perguntou-lhe por que o fizera. O homem, sem dúvida perplexo, respondeu que ele comera porque tinha fome, ao que Wolff respondeu: “Pode você dar uma prova matemática da fome?”
Missionário aos judeus
Wolff nasceu na Alemanha em 1795 e morreu na Inglaterra, em 1862, como ministro da Igreja Anglicana. Em criança era conhecido simplesmente como “Wolff”, não assumindo o nome de Joseph até tornar-se católico, aos 17 anos. O pai de Wolff, um rabino, estava decidido que seu filho não fosse contaminado pela sociedade predominantemente cristã. Para certificar-se de que nada que não fosse alimento kosher, caísse na provisão de leite da família, o pai encarregou o menino de sete anos para vigiar de perto quando o vizinho ordenhava a vaca. O vizinho, que era luterano, entabolou conversa com Wolff sobre o Messias, chamando sua atenção para Isaías 53. Wolff jamais se esqueceu do que aprendera com o vizinho, mas logo aprendeu a nada dizer ao pai a respeito.
Como adolescente, estudou em muitos lugares, inclusive nas melhores escolas da Europa. Algumas eram liberais, outras conservadoras; algumas eram católicas, outras protestantes. Muitas vezes ele melhorava suas finanças ensinando hebraico. Outras vezes garantia sua subsistência com o apoio de famílias de posse.
Aos 17 anos ele abraçou o catolicismo romano. Assumiu o nome de “Joseph” como seu nome cristão. Pouco depois, embarcou para Roma. Nascido judeu, tinha descoberto enorme alegria encontrando o Messias e almejava partilhar sua alegria com judeus em toda parte. Em Roma, esperava ser preparado como missionário no Colégio da Propaganda.
Mas sua experiência em Roma não foi animadora. Ficou perplexo com a ênfase sobre a infalibilidade papal, e começou a argumentar abertamente, e “nem sempre cortesmente”, em classe. Seus mestres, aborrecidos, finalmente obtiveram uma ordem para que ele saísse da cidade. No entanto, não foi obrigado a partir até que pela providência divina um banqueiro inglês, Henry Drummond, que aparentemente estava em Roma a negócio, ouviu falar sobre esse estudante corajoso, e entrou em contato com ele. Convidou Joseph a ir à Inglaterra, onde amigos cristãos patrocinariam seus estudos. Um ano mais tarde, Joseph embarcou para a Inglaterra.
Na Inglaterra, Drummond deu-lhe cordiais boas-vindas, e o ajudou a continuar seus estudos, agora sob a direção de professores protestantes. Como parte de sua educação protestante, recebeu instrução específica sobre como ganhar judeus para Cristo.
Joseph Wolff fez três grandes viagens missionárias, 1821-1826, 1828-1834 e 1836-1838, além de sua viagem a Bocara (1843-1845), à procura de dois militares britânicos. Entrementes, visitou a Grécia, Malta, Criméia, Palestina, Turquia, Egito, Ásia Central, Abissínia, Iêmem, Índia e outros países, incluindo mesmo os Estados Unidos.
Ele foi à América por recomendação de médicos de Bombaim. Seu plano era pregar a respeito de Cristo na Índia, mas sua saúde na época era tão precária que os médicos disseram que ele morreria se tentasse fazê-lo. Recomendaram que, em vez disso, viajasse para a América. Ele o fez e foi recebido como um herói. Por proposta do presidente John Quincy Adams, foi convidado a pregar numa reunião de ambas as casas do Congresso. Foi também convidado a falar aos legisladores dos Estados de Nova Jersey e Pensilvânia. Ele diz que discursou sobre suas pesquisas na Ásia e também sobre o reino pessoal de Jesus Cristo. Durante sua estada na América, foi ordenado diácono da Igreja Anglicana e serviu por um mês como pastor antes de voltar à Inglaterra.
Para ver a segunda e última parte do artigo clique aqui.
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